segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

Honey - Trailer

Video - Entrevista de Semih Kaplanoglu em Brelim

Vencedor em berlim - Noticia Público


Mas, tal como acontecera em 2009, foram dois outros filmes que dividiram entre si o grosso do palmarés.

"How I Ended This Summer", "thriller" do russo Alexei Popogrebsky sobre dois homens isolados numa estação meteorológica no Árctico, valeu ao director de fotografia Pavel Kostomarov o Urso de Prata para a melhor contribuição artística e a Grigory Dobrygin e Sergei Puskepalis, "ex-aequo", o Urso de Prata para melhor actor.

E o drama do romeno Florian Serban "If I Want to Whistle, I Whistle", sobre um jovem prisioneiro que rapta uma assistente social para tentar evitar que a sua mãe ausente parta com o irmão mais novo que criou sozinho, venceu o Grande Prémio do Júri e o prémio Alfred Bauer para filmes que “abrem uma nova perspectiva artística”.

Num palmarés que Herzog disse durante a cerimónia ter sido relativamente fácil de decidir, Roman Polanski foi considerado o melhor realizador por "The Ghost Writer". O prémio foi recebido na sua ausência pelos produtores Robert Benmussa e Alain Sarde, que telefonaram ao cineasta polaco para o informar do galardão, lamentando que não pudesse estar ali para o receber em pessoa. Ao que Polanski respondera, segundo Sarde, que “a última vez que fui a um festival de cinema fui preso”, numa referência bem-humorada às circunstâncias da sua detenção na Suíça.

O Urso de Prata de melhor actriz coube à japonesa Shinobu Terajima, pelo seu papel de esposa sofredora de um soldado japonês mutilado, no filme de Koji Wakamatsu "Caterpillar. E o galardão de melhor argumento foi entregue ao realizador chinês Wang Quan'an e ao seu colaborador Na Jin por "Apart Together", história de um triângulo amoroso entre três idosos de Xangai.

O palmarés da edição 2010 foi surpreendente na medida em que acabou por agradar maioritariamente a “gregos e troianos”, ao mesmo tempo que ignorava alguns dos melhores filmes apresentados na competição e continua a tradição recente de Berlim de premiar um filme de uma cinematografia pequena.

Embora não fosse um candidato forte, "Honey", terceiro tomo de uma trilogia sobre a infância e adolescência de um jovem poeta turco (completada por "Egg" e "Milk", que Semih Kaplanoglu dirigiu em 2007 e 2008), era o favorito de parte da crítica alemã, enquanto "How I Ended This Summer" reuniu inexplicavelmente o consenso de muita crítica internacional. Não faltou quem apontasse (correctamente) que o filme de Alexei Popogrebsky, rodado numa verdadeira estação meteorológica no Árctico com uma equipa reduzida, ia de encontro a muitas das características do cinema de Werner Herzog, o que justificaria a sua presença no palmarés.

Esperava-se também um gesto do júri em direcção a Roman Polanski, em grande parte devido ao capital de simpatia da comunidade artística para com o realizador polaco face à complexa situação judicial em que se encontra.

A maior surpresa terá sido o Urso de Prata para "If I Want to Whistle, I Whistle". A competição de Berlim havia até agora “passado ao lado” da nova vaga do cinema romeno, propulsionada por filmes como "4 Semanas, 3 Mesas e 2 Dias" ou "A Morte do Sr. Lazarescu", mas a primeira obra de Florin Serban fora recebida sem grande entusiasmo.

A cerimónia decorreu, como sempre, no Berlinale Palast perante uma audiência de 1600 convidados que assistiram em seguida a "About Her Brother", do veterano japonês Yoji Yamada, escolhido como encerramento oficial do 60º aniversário do festival. Edição que termina esta noite e, pelo meio das múltiplas comemorações da ocasião (como a projecção ao ar livre de "Metropolis" de Fritz Lang na Porta de Brandenburgo, com dois mil espectadores que não arredaram pé apesar das temperaturas negativas), se tornou na mais concorrida de sempre, com mais de 300 mil espectadores contabilizados.

O palmarés completo

Urso de Ouro: "Honey" (Turquia/Alemanha), de Semih Kaplanoglu

Urso de Prata (Grande Prémio do Júri): "If I Want to Whistle, I Whistle" (Roménia/Suécia), de Florin Serban

Melhor Realizador: Roman Polanski, por "The Ghost Writer" (França/Alemanha/Grã-Bretanha)

Melhor Actriz: Shinobu Terajima, por "Caterpillar" (Japão), de Koji Wakamatsu

Melhor Actor: "ex-aequo" para Grigori Dobrigin e Sergei Puskepalis, por "How I Ended This Summer" (Rússia), de Alexei Popogrebski

Melhor Contribuição Artística: Pavel Kostomarov, pela fotografia de "How I Ended This Summer"

Melhor Argumento: Wang Quan'an e Na Jin, por "Apart Together" (China), de Wang Quan'an

Prémio Alfred Bauer para filmes que “abrem novas perspectivas artísticas ao cinema”: "If I Want to Whistle, I Whistle"

Melhor Primeira Obra (atribuída por um júri separado): "Sebbe" (Suécia), de Babak Najafi

critica de Francisco Ferreira - (enviado do Expresso ao festival de Berlim)


Tons de Vermeer

"Honey", do turco Semih Kaplanoglu, encerra uma trilogia sobre a personegem de Yusuf. A sua história é contada da idade adulta à infância.

Semih Kaplanoglu faz filmes desde 1984, é um dos nomes mais respeitados da cinematografia turca e impôs-se nos festivais internacionais em 2007, com "Egg", exibido em Cannes. Seguiram-se "Milk", que competiu em Veneza (em 2008) e agora "Honey", apresentado a concurso em Berlim. Não há muitos cineastas no planeta a colocarem três filmes consecutivos nos três festivais de cinema mais importantes.

Da frente para trás os títulos citados fazem parte de uma trilogia que agora se encerra, baseada numa só personagem, Yusuf. O que é curioso é que a história de Yusuf foi contada da frente para trás nos três filmes. Em "Egg", Yusuf é um poeta na casa dos 30 que regressa à sua aldeia natal, após a morte da mãe. Em "Milk" (exibido no Indie Lisboa 2009), é um adolescente solitário que começa a interessar-se pela poesia e a escrever os primeiros poemas. Finalmente, em "Honey", Yusuf é uma criança de 6 anos. Começou a ir à escola e a aprender a ler e escrever. O seu pai é apicultor, trabalho perigoso que o leva a trepar árvores na floresta para recolher as colmeias. Para o pequeno Yusuf, essa floresta é um mistério. Fá-lo sonhar. Mas o pai avisa-o, em jeito de maldição: os sonhos não se devem contar a ninguém. Contemplação

Estamos nas profundezas da Anatólia. O tempo da acção é um tempo de lenda, difícil de datar. E é um tempo lento, muito lento. A imagem é pictórica e contemplativa. O efeito nasce de longuíssimos planos-sequência e de elegias à 'mãe natureza' sem luz artificial.Estamos a falar de um cinema que não está preso às inquietações do presente e que nada tem que ver com o resto do cinema turco contemporâneo (com o cinema de um Nuri Bilge Ceylan, por exemplo). "Honey" explora ainda mais todas estas definições do que os dois tomos anteriores. Talvez porque Yusuf, aqui, é uma criança. O conflito, na infância, é mais secreto e invisível. Sobretudo o conflito da relação entre pais e filhos: a trilogia de Kaplanoglu não fala de outra coisa.

Não causa insónias "Honey" é uma pura profissão de fé formalista, filme de beleza arrebatadora, mas coloca-nos imensos problemas. Digamos que não causa insónias. Precisa de manual de instrucções. Desconfiamos do seu gesto solene. Terão o "ovo", o "leite" e o "mel" das três ficções um significado mais profundo do que aparentam naquela cultura? E como sabê-lo num filme em que a acção das palavras é quase interdita?

Intrigados, fomos à conferência de imprensa. Kaplanoglu elogiou a natureza, a sua influência na vida e na morte, toda uma cosmogonia a priori inatacável, feita de imagens e sons. Depois, confessou que a maior influência de "Honey" é Vermeer. Não saímos mais instruídos.

Receamos que o cinema de Kaplanoglu, no fundo, se sufoque no seu próximo talento - ele existe, quanto a isso não há dúvidas. O objectivo destas crónicas, porém, não é fazer juízos definitivos. Há que dar tempo ao tempo. E talvez "Honey", "Milk" e "Egg", revistos por esta ordem, abram uma porta que, para já, fica fechada.

Honey (Turquia/Alemanha)
de Semih Kaplanoglu
(Selecção Oficial - Competição)


"Honey" ganha urso de ouro em Berlim


O filme turco "Honey", última parte da trilogia de um poeta cuja história é contada da idade Negritoadulta até à infância, venceu ontem à noite em Berlim o prestigiado Urso de Ouro.


No novo trabalho de Semih Kaplanoglu, cineasta contemplativo e formalista, Yusuf (assim se chama a personagem) tem 6 anos, está na escola e começa a aprender a ler e a escrever. O seu pai, que é apicultor, percorre uma floresta que é uma lenda para Yusuf, espaço assombrado que trará à criança sonhos premonitórios e uma provação terrível.

"Honey" é uma parábola da infância e dos seus segredos. Uma profissão de pura fé no poder da mise-en-scène. De uma beleza arrebatadora, o filme seduziu o júri presidido por Werner Herzog.

A aventura da trilogia começou com "Egg", exibido em Cannes 2007. "Milk" competiu em Veneza 2008. "Honey" conclui agora a história e oferece o ouro a Kaplanoglu.

Sublinhe-se que não há muitos cineastas a colocarem três filmes consecutivos nos três festivais de cinema mais importantes do mundo.

Outros prémios

O Urso de Prata do Grande Prémio do Júri foi para a primeira obra do romeno Florin Serban, "If I Want to Whistle, I Whistle", história de um jovem recluso que está prestes a sair da cadeia. Os seus problemas aumentam com o regresso inesperado da mãe e a preocupação com o irmão mais novo.

"If I Want to Whistle, I Whistle" venceu também o Prémio Alfred Bauer, atribuido a um trabalho de particular inovação. Esta acumulação de prémios é rara em Berlim.

Roman Polanski, que foi destacado na edição de hoje do Actual, não veio a Berlim (continua preso na Suiça) mas ganhou um Urso de Prata para Melhor Realizador, por "The Ghost Writer." Fez-se justiça.

O nosso filme favorito, "Caterpillar", de Koji Wakamatsu, ofereceu à extraordinária actriz nipónoca Shinobu Terajima uma interpretação desse nível. O júri concordou e atribuiu-lhe o Urso de Prata para Melhor Actriz.

Na categoria masculina, o Urso de Prata para Melhor Actor foi atribuido ex-aequo à dupla russa Grigori Dobrygin e Sergei Puskepalis, actores de "How I Ended This Summer", de Alexei Popogrebsky. O mesmo filme valeu ao director de fotografia Pavel Kostomarov o Urso de Prata para Melhor Contribuição Artística.

Última referência para o Urso de Prata para Melhor Argumento, que distinguiu o filme de abertura do festival, "Apart Together", de Wang Quan'an. O realizador chinês co-assinou o guião com Na Jin.

Os filmes premiados, bem como todos os restantes a concurso, foram acompanhados pelo Expresso on-line ao longo dos últimos doze dias no postal Berlim 2010 . Ao festival voltaremos, na edição impressa do Expresso, no próximo sábado.

BERLIM 2010 - PALMARÉS

Urso de Ouro: "Honey" (Turquia/Alemanha), de Semih Kaplanoglu.

Grande Prémio do Júri - Urso de Prata: "If I Want to Whistle, I Whistle" (Roménia/Suécia), de Florin Serban.

Melhor Realizador: Roman Polanski, por "The Ghost Writer" (França/Alemanha/Grã-Bretanha).

Melhor Actriz: Shinobu Terajima, por "Caterpillar" (Japão), de Koji Wakamatsu.

Melhor Actor: Grigori Dobrigin e Sergei Puskepalis, ex-aequo, por "How I Ended This Summer" (Rússia), de Alexei Popogrebski.

Melhor Contribuição Artística: Pavel Kostomarov, pela fotografia de "How I Ended This Summer" (Rússia), de Alexei Popogrebski.

Melhor Argumento: Wang Quan'an e Na Jin, por "Apart Together" (China), de Wang Quan'an.

Prémio Alfred Bauer para um trabalho de particular inovação: "If I Want to Whistle, I Whistle"(Roménia/Suécia), de Florin Serban.

Melhor Primeira Obra: "Sebbe" (Suécia), de Babak Najafi

 

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